O melhor. Adjectivo singular, que transmite a todas as pessoas, um sentimento de inquietação, não provoca um só tipo de inquietação, mas sim vários, dependendo do sujeito que esta palavra caracteriza. Caso, se refira a adversários, inimigos, ou rivais, confere receio, respeito acrescido, alguma insegurança, falta de confiança, e possivelmente inveja, apesar de este último sentimento não se adequar muito bem com os adversários, sendo que a rivalidade em si, diminui o desejo de se tornar mais semelhante ao inimigo. Se for dirigida a um amigo, ou a um parceiro, a reacção causada é naturalmente diferente, pode-se sentir orgulho no teu parceiro, adquirir também um maior respeito por ele, e provavelmente vai-se sentir a necessidade acrescida de estar mais tempo, com esse amigo/parceiro, de forma a poder tirar proveito dele, quer seja em termos de popularidade, ou simplesmente para melhorar, aprendendo com os melhores, o que é vulgarmente conhecido como uma relação por interesse. E, quando nós próprios somos considerados e chamados de tal? Sentimo-nos essencialmente bem, realizados, sabendo que aquilo que fazemos, fazemos bem, isto eleva a nossa confiança de uma forma muito considerável, podendo ir até ao topo, caso isto aconteça, muitas vezes deixa de ser confiança e passa a ser considerada arrogância, isto provoca por sua vez uma reacção negativa por parte dos outros, é algo bastante normal, as atitudes do arrogante, grande parte das vezes não são as certas. Mas, então há dois questões que se colocam, como é que alguém pode ser considerado o melhor, isso não é algo subjectivo? E, como é que se pode dizer que essas atitudes estão de facto erradas? Pois bem, à primeira questão, é que sim, é uma questão algo subjectiva, porque são vários os factores que podem determinar quem é ou não de facto, o melhor. Contudo, há sempre, ou quase sempre uma noção de quem é superior, e segue-se essa noção, que está provavelmente certa. E quanto às atitudes, se são as atitudes realizadas pelos melhores, podemos dizer que não são as atitudes certas? Do ponto de vista moral, sim podemos dizer que não são as atitudes certas, mas de uma forma mais objectiva se foram realizadas pelos melhores, é porque os melhores sabem quais as melhores atitudes, logo não se pode dizer que sejam as atitudes certas.
Otunga desce a rampa com um andar lento, e confiante, pede um micro e então entra no ringue, posicionando-se no seu centro.
Otunga: Boa noite a todos…ah que eu estou-me a sentir tão bem hoje. E sabem porque é que me estou a sentir assim, sabem? Oh vá lá, não é preciso ser-se um génio para percebê-lo. Eu estou contente, porque, finalmente, depois de uma ausência prolongada, "The Kanye West of WWE", está de volta aos ringues, e uma coisa, eu vos garanto, ele está melhor do que nunca. Isso mesmo, vocês ouviram bem, eu melhorei. Não que eu precisasse de melhorar, óbvio. Só que o facto é esse melhorei, e se eu antes já era bom…não, bom não, estou a ser humilde, eu era muito bom, podem o negar, força nisso, mas apenas estou a dizer a verdade, a ser puramente realista. Eu nem faço a mínima ideia de quem está neste roster, e nem sequer ouvi falar na maioria deles, não faço a mínima ideia de quem sejam, ou daquilo de que são capazes de fazer, mas se há uma coisa de que eu não duvido, é o facto de agora poder afirmar, que eu não sou dos melhores, e não sou o melhor, não, o que eu sou é o melhor dos melhores. Eu sou aquele que ninguém irá conseguir vencer, aquele a que ninguém irá querer fazer frente, aquele que ninguém irá querer enfrentar, e que todos, sem excepção receiam. Reparem, no tempo verbal que eu sei, não é o presente, pois eu sei muito que por agora, ainda não sentem isto, pois tal como eu não vos conheço, vocês não me conhecem, e também não é o condicional, porque eu tenho toda a certeza que isto irá acontecer, nem sequer coloco a hipótese de não vir a acontecer, logo o tempo que uso é o futuro, eu tenho a certeza que aquilo que eu disse vai acontecer, é só uma questão de tempo, calculo que logo no final do primeiro show da UWA, quando destruir os meus adversários, fizer o pin, e sair do ringue vitorioso.
Otunga solta um sorriso sarcástico. O público começa a vaiar.
Otunga: Eu sei porque é que vocês estão a apupar. Não estão a gostar da minha conversa, de toda esta arrogância no meu discurso não é? Pois…não me interessa. Eu não estou aqui para ganhar o vosso respeito, não estou aqui para que vocês me adorem e apoiem, não estou aqui para fazer amigos, quero lá saber de todas essas tretas, tudo isso não serve para nada. Esse género de coisas é para os miúdos mimados, aqueles que não são capazes de fazer nada sozinhos, e precisam de apoio moral e psicológico para seguir em frente na vida. Eu não preciso de ajuda de ninguém, e não quero apoio, não preciso, sempre me safei às mil maravilhas sozinho, e nunca irei precisar de alguém ao meu lado para vencer os meus combates, as minhas batalhas. Eu sou forte, se vocês, monte de incultos preferem escolher e apoiar os fracos, é com vocês, os fracos ajudam sempre os fracos, para dessa forma tentar prevalecer perante os fortes, com a vantagem numérica, por vezes conseguem, comigo não o conseguirão. Porquê, eu já vos disse o porquê, volto a dizê-lo, não me farto de o dizer. É porque eu sou o melhor dos melhores.
O público começa a vaiar ainda mais intensamente, Otunga solta mais um sorriso.
Otunga: Cambada de tristes…querem razões? Querem razões para eu me auto proclamar o melhor dos melhores? Eu dou-vos razões. Razão número um, não sou um pobretanas qualquer, tenho dinheiro e não é pouco, e claro que grande parte do meu dinheiro gasto naquilo que eu gosto, ou seja no Wrestling. Treinadores, ginásios privados, tudo aquilo que vocês podem imaginar, eu adquiri, para aperfeiçoar as minhas qualidades dentro do ringue. Aquilo que para a maioria dos wrestlers é um sonho, para mim é algo do mais concreto que há, as condições de treino que eu tenho são óptimas, não sou como os outros que andam para aí a treinar no ginásio rançoso da esquina. Claro, que as condições de treino não são tudo o que interessa, também interessa a aptidão para a modalidade, a força de vontade. E nada disso me falta, em termos genéticos sou favorecido, encontrar um atleta mais completo que eu é deveras, complicado, força, agilidade, inteligência, tenho tudo o que é necessário. A minha força de vontade, garanto-vos que é enorme, defino um objectivo e não descanso até ter alcançado esse mesmo objectivo. No caso do Wrestling o objectivo é sempre o mesmo, vencer, tão simples como isso.
Nota-se algum cansaço, e algum interesse por parte do público, os apupos reduzem um pouco.
Otunga: Mas, esqueçamos esta história das minhas atitudes, e passemos àquilo que interessa de verdade. O que realmente interessa, é aquilo que eu sou capaz de fazer dentro do ringue, e aqui, não vão ser vocês, o público a queixar, ah não que não vão, quem se vai queixar vão ser os meus adversários, queixar de todas as dores que vão sentir por tudo o corpo, depois de os massacrar. Eu já vos disse que sou completíssimo, e irão verificar isso mesmo no primeiro show, eu sou capaz de realizar moves de alto risco que vos deixa de boca aberta, de reverter,ou até fazer uma manobra em força se for necessário, tudo muitíssimo bem executado. Para além disto, não sou daqueles tipos certinhos, que fazem sempre o que é moralmente certo, para vencer os seus confrontos de forma “limpa”, se vir que para ficar por cima dá me jeito arranhar os olhos do outro, ou apoiar-me nas cordas para fazer o pin, não hesitarei em fazê-lo. E, não comecem a vaiar feitos homens das cavernas, por causa destas minhas palavras. Se vaiarem, não é só a mim que vaiam, estão a vaiar também um dos Wrestlers mais respeitados de sempre, um wrestler que é uma lenda viva, que já fez tudo e mais alguma coisa por este desporto, eu estou a falar do grande Ric Flair, ele foi dezasseis vezes campeão mundial, é considerado um dos melhores de sempre, e todos o respeitam, inclusive eu, e acreditem não são muitos os que respeito, de resto tirando aqui eu, de momento não me vem mais nenhum outro nome à cabeça. Eu sou como ele, faço tudo o que estiver dentro das minhas possibilidades para sair vencedor, nada mais, isso é o que realmente importa neste meio, é o fim, e não os meios que usamos para atingir esse mesmo fim.
O público cala-se por completo, como que se tivesse concordado com as palavras proferidas por Otunga
Otunga: O meu tempo aqui, está a chegar ao fim. Só quero deixar algo bem claro, eu quero um título, eu preciso de um título, os títulos são a minha razão de viver, são o meu oxigénio, para além de vencer, é o meu outro grande objectivo. É para tê-los à minha cintura que trabalho dia após dia. Mas aviso-vos, eu não estou aqui para ter um título qualquer, não longe disso, nada de títulos secundários, nada de Tag Team’s, o que eu realmente quero e vou ter é o título principal,eu farei tudo, absolutamente tudo para tê-lo na minha posse, e para mantê-lo pela maior quantidade de tempo possível…!
Otunga sai do ringue, sobe a rampa e desaparece da vista de todos.